A The Open Network (anteriormente Telegram Open Network, ambas abreviadas como TON) é uma rede e plataforma descentralizada baseada em blockchain, desenvolvida pela equipe do Telegram. Em maio de 2020, o Telegram retirou-se do projeto na sequência de um litígio com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA.

Inclui a máquina virtual TON (TVM ou TON VM).

História

Desde o lançamento do aplicativo Telegram em 2013, o CEO Pavel Durov enfatizou que o serviço de mensagens instantâneas não incluirá publicidade. De acordo com documentos relacionados ao processo de 2020 da CVM contra Telegram, em 2017 a empresa autofinanciada precisava de dinheiro para pagar os servidores e serviços. Durov considerou financiamento de capital de risco porém decidiu não o fazer até os problemas serem resolvidos. Numa entrevista à Bloomberg em meados de dezembro de 2017, Durov anunciou que o Telegram começaria a monetizar no início de 2018. O TechCrunch então brevemente confirmou que a empresa planejava lançar um projeto de blockchain denominado "The Open Network" ou "Telegram Open Network" (TON) e a sua moeda criptográfica nativa "Gram".

Em janeiro de 2018, um whitepaper de 23 páginas e um documento técnico detalhado de 132 páginas lançaram luz sobre o projeto. De acordo com os documentos, os Durovs planejavam atrair a já existente base de usuários do Telegram à TON e promover a adopção em massa de criptomoedas, transformando-a numa das maiores blockchains. A TON foi descrita como uma plataforma para aplicações e serviços descentralizados, semelhante ao WeChat, Google Play ou App Store, ou mesmo uma alternativa aos serviços de processamento de pagamentos da Visa e da MasterCard, devido à sua capacidade de escalar e suportar milhões de transações por segundo. A base de código da TON foi criada por Nikolai Durov, o criador do protocolo MTProto do Telegram, e Pavel tornou-se a figura pública do projeto.

Venda privada da Gram

Para financiar o desenvolvimento do mensageiro e o projeto blockchain, o Telegram atraiu investimentos através de uma oferta privada de Gram. Um esquema legal foi utilizado em duas fases: o acordo de compra de Gram foi estruturado como um contrato futuro que permitiu aos investidores receberem tokens após o lançamento da TON. Uma vez que os futuros só foram vendidos a investidores autorizados, a oferta foi isenta de registro como valores mobiliários ao abrigo do Regulamento D do Securities Act de 1933, com base no fato que, quando a TON estivesse operacional, as Grams teriam utilidade e não seriam consideradas títulos. O contrato foi redigido pela grande firma de advogados norte-americana Skadden.

A oferta decorreu em duas rodadas, cada uma das quais arrecadou 850 milhões de doláres. Um site russo de notícias sobre tecnologia calculou que a primeira rodada oferecia 2.25 bilhões de tokens a 0,38 doláres cada, com compra mínima de 20 milhões de doláres, e a segunda oferecia 640 milhões de tokens a 1,33 doláres cada, com compra mínima de 1 milhão de doláres. Em abril de 2018, a empresa comunicou ter angariado 1,7 bilhões de doláres através da ICO em curso. A partir da primavera de 2018, as únicas fontes oficiais de informação eram os dois formulários D que o Telegram apresentou à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA.

Desenvolvimento

O desenvolvimento da TON decorreu de forma totalmente isolada e foi opaca durante todo o tempo. O lançamento da rede de teste estava inicialmente previsto para o segundo trimestre de 2018 e o lançamento da rede principal para o quarto trimestre, mas as previsões foram adiadas várias vezes. A rede de testes foi lançada em Janeiro de 2019, com um desvio de meio ano em relação a previsão inicial. Em Maio, a empresa lançou a versão lite da rede blockchain TON. Em setembro, a empresa lançou o código-fonte completo dos nós TON no GitHub, tornando possível lançar um nó completo e explorar a rede de teste. O lançamento da rede principal da TON estava previsto para 31 de outubro.

CVM vs. Telegram

A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA tinha preocupações sobre a venda privada de Gram e contatou o Telegram pouco depois, mas ao longo de 18 meses de comunicação, as partes não chegaram a um entendimento. Em 11 de outubro de 2019, algumas semanas antes do lançamento planejado da TON, a CVM obteve uma ordem restritiva temporária para impedir a distribuição de Grams. O regulador argumentou que os compradores iniciais de Gram estariam agindo de forma semelhante aos subscritores, e uma vez distribuída, seria uma distribuição não registrada de títulos.

Após uma longa batalha legal entre o Telegram e a CVM, o juiz P. Kevin Castel do Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito Sul de Nova Iorque concordou com a visão da CVM de que a venda de Grams, a distribuição aos compradores iniciais e a provável revenda futura deveriam ser vistas como um "esquema" para distribuir Grams no mercado secundário numa oferta de títulos não registrada. O "título" em questão consistia em todo um conjunto de contratos, expectativas e entendimentos em torno da venda e da distribuição de tokens ao público interessado, e não nas próprias Grams. Neste caso, os compradores iniciais agiram como subscritores que planejavam revender os tokens e não consumi-los. As restrições à distribuição de Grams continuaram em vigor para compradores sediados dentro e fora dos EUA, já que o Telegram não tinha ferramentas para impedir que cidadãos americanos comprassem Grams no mercado secundário.

Após a decisão do tribunal, a equipe da Telegram Open Network anunciou que não poderia lançar o projeto até o prazo previsot de 30 de abril de 2020. Em 12 de maio de 2020, Pavel Durov anunciou o fim do envolvimento ativo do Telegram com a TON. Em 11 de junho, o Telegram fez um acordo com a CVM dos EUA e concordou em devolver 1,22 bilhão de doláres como "valores de rescisão" em acordo de compra de Gram e pagar uma multa de 18,5 milhões de doláres à CVM. A empresa também concordou em notificar a CVM sobre quaisquer planos de emissão de ativos digitais nos próximos três anos. O juiz aprovou o acordo em 26 de junho. "Empresas novas e inovadoras são bem-vindas para participar de nossos mercados de capitais, mas não podem fazê-lo em violação dos requisitos de registro das leis de títulos federais", observou o porta-voz da CVM. O Telegram encerrou posteriormente a rede de teste TON.

Em 2020, o Telegram reembolsou aos investidores da TON 770 milhões de doláres e converteu 443 milhões de dólares em uma dívida de um ano com juros de 10%, elevando seu passivo total para 625,7 milhões de doláres. Em 10 de março de 2021, a empresa procedeu à colocação de obrigações a 5 anos no valor de 1 bilhão de dólares para cobrir as dívidas que tinha de devolver até 30 de abril de 2021.

Pós Telegram

Em maio de 2020, quando o compromisso do Telegram com o projeto não era claor, outros projetos começaram a desenvolver a tecnologia. Em dezembro de 2021, Pavel Durov escreveu:

" Quando o Telegram se despediu (https://telegra.ph/What-Was-TON-And-Why-It-Is-Over-05-12) da TON no ano passado, expressei a esperança de que as futuras gerações de desenvolvedores um dia continuassem com nossa visão de uma plataforma blockchain de mercado de massa.

Por isso, fiquei inspirado ao ver os campeões dos concursos de codificação do Telegram continuarem a desenvolver o projeto TON aberto, que mudaram a marca para Toncoin (https://t.me/toncoin).

Estou orgulhoso pelo fato de a tecnologia que criamos estar viva e evoluindo. Quando se trata de escalabilidade e velocidade, a TON ainda está anos à frente de todo o resto no domínio da blockchain. Teria sido uma pena ver este projeto não beneficiar a humanidade.